domingo, 31 de julho de 2011

A cada dia uma inspiração.

(Ficamos sem internet lá por dias. Mas antes tarde do que nunca!)

Outro dia, no orfanato, conheci outra Júlia. Essa devia ter uns 3, 4 anos. Lembrei de um dia em que alguém contou que tinha brincado muito com ela, mas nada a fazia sorrir. Deu um leve sorriso na hora de ir embora, apenas. Fiquei com ela no colo, deitei sua coluninha nas minhas pernas, de modo que olhava para mim, com o céu ao fundo. Tentei conversar mas nada respondia, só olhava. Perguntei a uma das mulheres se ela falava. Disse que sim, mas nem sempre. Descobri também que era HIV positivo. Depois de muito tempo, após um barulho no céu, ouvi quase um sussuro dizendo "avião". Oh! Pensei: e nao é que ela fala? Posteriormente falou uma coisa ou outra. Fiz cócegas em sua barriguinha e consegui alguns sorrisos. Fiquei muito honrada com seu comportamento receptivo. Na hora de ir embora, fui colocá-la no chão, pois nessa hora estava em pé com ela no colo. Quando suas meinhas tocaram o chão, imediatamente abriu a boca a chorar. Assustei com a reação, a peguei de volta e abracei apertadinho, como minha mãe faz com crianças. Não parou de chorar, mas tive que entregá-la e fui embora. E essa foi a primeira vez que chorei, desde que cheguei. Conquistar o coração de alguém "difícil" tem um gostinho especial. Fiquei feliz por ter se sentido bem comigo. Triste, entretanto, porque não podia fazer mais nada por ela. Uma menininha muito doce, de trços delicados, que perdeu a mãe. Mas tem um pai que a ama. Está ali para se tratar, como a irmãzinha Telma - que também tem tuberculose -, e seu pai não tem condições de cuidar de sua saúde. Disseram que quando estiver maior, mais forte, vai voltar pra casa.









Fomos a um orfanato chamado Kedesh.





Assim que chegamos vi um grupo de crianças e jovens jogando vôlei. Com eles, um homem de barbas longas e brancas, óculos e pés no chão, além de um sorriso estampado no rosto. Simpatizei em segundos. Ao fundo, outros jogavam futebol num campo.




Parecia um sítio. Construções simples, cães, galinnha e pintinhos.




Em uma das construções, no segundo andar, uma caixa de som entoava todo o CD do The Cramberries.



Senti extremamente confortável ali. Gostava do ambiente, das cores, do som composto por música, bichos, risos, conversas. Os meninos tinham semblantes felizes, gostavam do lugar. Fomos lá outro dia a tarde para um churrasco. Achei um charme, cada menino escolheu a carne que queria, havia uma lista! As caixas do segundo andar sempre com boas músicas. O céu estava fabuloso. Não há muita luz no lugar, o que deixava as estrelas mais evidentes. Deitei sozinha no centro do campo de futebol e observei por alguns minutos. Pensei em várias coisas e pessoas, balbuciei algumas de minhas músicas preferidas. Ajudei a montar hambúrgueres para os meninos e depois fomos todos convocados a subir para uma sala. Os garotos haviam preprado algumas apresentações para nós. Foi um show, uma verdadeira festa! As meninas e eu dançamos e eles vieram dançar conosco. A propósito, aqui parece "Caminho das Índias" ou meus tempos áureos de R.I: tudo acaba em dancinha. Os meninos se apresentaram em duplas. Teve dança, capoeira, violão... Tem um passinho clássico que vi em vários lugares, inclusive naqueles povoados que visitamos. Gravei vários vídeos, em breve vou editá-los e postar.









Outro dia fomos em um dessas vilas, bem longe, e lá ouvia uma música alta. Achei estranho. Descobri que tem uma espécie de cinema lá, uma casa bem simples de bambu e palha, dentro um projetor. Mas essa hora tocava música eletrônica. Vê se pode? Quase uma trance. Nesse dia almoçamos na rua, literalmente.



Brandon aproveitou para tirar um cochilo.




Outro lugar que me marcou foi um outro orfanato, esse em Nhamatanda. Aos chegarmos fomos levados para uma sala e havia uma fila de cadeiras atrás de duas mesas juntas, para nós. As duas com toalhas e um vasinho de flores em tons de rosa, em cada canto. Do lado oposto, dois blocos com filas de bancos. Do lado direito, as meninas, do lado esquerdo, os meninos. Cantaram para nós e fiquei i.m.p.r.e.s.s.i.o.n.a.d.a com as músicas. Cantavam em vozes, harmonias, belas canções africanas, algumas religiosas. Ensinamos a costurar as mochilas e foi ótimo! Meu grupo tinha meninos muito simpáticos e educados. Pretavam atenção nas instruções e executavam muito bem.







Na hora do almoço preparamos pães com manteiga de amendoim e geléia para eles. Além disso, haviam preparado feijão e massa. É literalmente uma massa, feita de farinha de trigo e água. Fazem bolinhas com as mãos e molham no feijão. Após o almoço, nos levaram a um mercado na rua comprar chinelos com bandeirinhas de Moçambique. Vimos nos pés deles e quisemos também. Na volta brincaram que eram nossos namorados e quiseram tirar foto. nos colocamos em duplinhas, segundo a brincadeira, e o que estava do meu lado pegou minha mãe e entrelaçõu os dedos. Há! Engraçadinho. Tem uma foto para provar. Quando eu descobrir quem tirou, coloco aqui. Já no fim do nosso tempo ali fomos levados de volta à sala. Sem luz elétrica, a luz de fim de tarde que estrava pelas duas janelas e porta era o que iluminava o ambiente. Cantaram novamente e a maioria de nós se emocionou. Lindo. Se tratava de uma instituição com orientação protestante e o diretor, um senhor com terno azul, pediu que dois meninos e duas meninas compartilhassem seus sentimentos sobre Deus, sobre sua vida no orfanato e sobre nossa presença ali. Um belo momento. Depois, Sr. Domingos pediu que alguns de nós falássemos a eles. Mal consegui começar, já falava engasgado, com lágrimas nos olhos. Falei que eram meninas e meninos lindos e inteligentes. Disse que o que eu mais queria deixar como mensagem era que NUNCA deveriam aceitar que alguém lhes dissesse que não eram capazes de realizar algo. Que eram capazes de muito, se estabelecessem metas e trabalhassem duro para conseguir. Um dos garotos, mais cedo, havia me perguntado o que era preciso para fazer faculdade no Brasil, seu sonho. Fiquei grata por ter tido a oportunidade de estudar, pela minha casa e família.

Em breve, as considerações finais.


























segunda-feira, 18 de julho de 2011

Lua e Sol, dois insanos.

Fomos visitar um outro orfanato e quando chegamos descobrimos que tinha sido fechado por problemas na construcao. As criancas da vizinhanca estavam la e brincamos com elas. Eu e Drake, um dos voluntaios, fizemos avioes de papel com duas criancas e fizemos um campeonato com dois pontos a serem analisados: beleza e potencia. Ganhei o de beleza da aeronave mas perdi todas as competicoes de voo. A vida e assim, a gente ganha em umas coisas, perde em outras. Passaram esmalte rosa nas meninas, muitas criancas ficaram colorindo desenhos, algumas enfeitaram o cabelo... Foi uma tarde muito agradavel.






A noite fomos jantar na praia e convidamos alguns mocambicanos. Chegamos por volta das 18h e estava muito muito escuro. Eu ouvia o barulho do mar, mas nao conseguia ve-lo direito. O ceu estava absurdamente maravilhoso, como ceu de roca, em Minas. Incontaveis estrelas. Nos acomodamos embaixo de uma arvore e comecaram a fazer a fogueira. Depois de acesa, sim, eu conseguia ver melhor as pessoas. Brandon, um dos voluntarios, e excelente fotografo e sabe muitas coisas interessantes sobre fotografia. Levamos aquelas pulseiras neon de festa pra la, e tem uma forma de "escrever" coisas com elas no ar. Escrevi a letra do meu nome. Infelizmente nao tenho as fotos comigo. Ja vi isso antes, mas nunca tinha feito. Divertidissimo!!!!
Enquanto brincavamos de fazer essas fotos alguem disse "olha la atras!". Quando eu virei, nao consegui entender. Era metade de um circulo, laranja. Muito laranja. Alguem disse "e a Lua!". Imediatamente disse que nao podia ser. 



Nao tinha como. Era impressionante. Grande. Enorme. Flamejante. De repente a beiradinha comecou a crescer, subir. Foi levantando e ficamos CHOCADOS com o tamanho e a beleza. Nunca vi nada assim antes, so digitando "moon" no google. Fiquei congelada naquilo e nao conseguia olhar para nada mais. Nem sei colocar em palavras. O ceu sempre me encantou muito e isso foi como um presente. Queria que cameras fossem capazes de captar da forma como o olho humano ve. Aquela Lua me encheu de uma forma que nao consigo descrever. 
Conheci duas mocambicanas muito simpaticas. Margarida e Amanda. Conversamos bastante. Elas sao encantadas pelo Brasil! Disseram que assistem muitos programas brasileiros na TV, adoram a comida, a musica... Falaram de artistas e lugares. Fiquei surpresa quando disse a minha cidade e disseram que sabiam qual era, dando, em seguida, exemplos envolvendo a cidade. Colocamos os pacotinhos de aluminio com o jantar na fogueira e conversamos enquanto ficava pronto. Margarida me disse que Amanda tinha um problema de saude e achava que se pudesse ir ao Brasil um dia, seria principalmente pela medicina muito muito, muito, muito, extremamente avancada, nas palavras dela.
Foi uma noite linda!
Passamos em frente ao Grande Hotel. Impressionante. Um predio esplendido, totalmente abandonado e invadido. As pessoas vivem em condicoes muito precarias. Muito triste.
Esse video mostra um pouquinho: 
Mas como diz nossa querida Miss Top Therm, vamos falar de coisa boa?
Voltamos ao mesmo lugar onde fizemos a fogueira no sabado a noite, mas dessa vez deu pra ver tudo. Ha um grande navio encalhado. Tiramos muitas fotos la!



Segunda (hoje) fomos a um lugar ma-ra-vi-lho-so! Descobri que segunda e o dia da diversao! Nos merecemos! Andamos um tempo grande por uma estradinha de terra, reta, com dois campos enormes, um de cada lado. E impressionante como tem espacos abertos aqui. Era um caminho muito bonito. Chegamos no lugar -no meio do nada-, pegamos um barco e atravessamos ate o outro lado. E um restaurante com pousada, parece. Bem grandinho. O inverno daqui parece de mentira. 
O sol bem brilhante em meio ao azul. Nenhum algodaozinho no ceu. Estava bem vazio. Na praia, so o nosso grupo e um grupo de uns 5 turistas um pouco longe. Tiramos muitas fotos, caminhamos na praia... A parte da areia era bem grande, mas quase metade era areia retinha e molhada. Acho que a mare sobe bastante a noite.

(Jumping picture do Madruga! Brilhei!)
(Jumping picture nossa!!! Mariah, Michael-Ann, yo, Meredith)
(Ignore o meu cabelo.)

A historia dessa foto e engracada. Vi essa mulher andando, achei que seria uma bela foto. Um tempo depois, um amigo que vinha do lado oposto disse que ela estava sem blusa, haha! Nem percebi ao tirar a foto.

Colocamos lencois na areia e os prendemos com pedacos de madeira nas pontas, como estacas em barracas. Essa foi uma parte deliciosa do dia! Tiramos uma soneca... Hummmm! Praia linda e vazia, pessoas simpaticas, uma combinacao perfeita de sol e brisa, nao estava quente nem frio. So sei que fui sendo levada ate dormir. Muito aconhegante. Quando acordei, nao sei quanto tempo depois, ate assustei que estava ali. Uma paz de espirito sem igual.
Ficamos mais um pouco e fomos embora. Na hora de ir, mais um show. O ceu numa cor linda, um barquinho se aproximando... Cena de pintura. 
Como se pode perceber, Lua e Sol, aqui, sao dois insanos. 



Amanha, trabalho e trabalho. As coisas estao otimas. Queria pessoas queridas aqui para dividir comigo, especialmente Dani, Penha, Leopoldo e Toto! :)